MÚSCULOS E NERVOS: PROCEDIMENTOS PARA O ESTUDO HISTOLÓGICO
MÚSCULOS:
Algumas condições como: miopatias inflamatórias ou infecciosas, atrofia muscular neurogênica, distrofias não especificadas, e poucas miopatias congênitas, podem ter diagnóstico em músculo fixado em formalina a 10%. Porém, idealmente, retirada a amostra muscular, esta deve ser prontamente congelada ou, após poucas horas, se for transportada para um laboratório de referência, desde que mantida resfriada, dentro de criotubo imerso em gelo seco. Para o congelamento o segmento muscular deve ser montado em cortiça, de modo que sejam obtidos cortes transversais, coberto com talco, e imerso em nitrogênio líquido. Rapidamente, após o congelamento, para não se formarem cristais de gelo, com vacuolização do sarcoplasma, a amostra pode ser colocada em criotubo, ou embrulhada em papel laminado (com identificação prévia) e armazenada em nitrogênio líquido (1)
O fragmento muscular deve ter de 1 a 2 cm de comprimento, para que possa ser submetido aos estudos: histológico (Hematoxilina & Eosina), histoenzimológico (ATPase, succinato-desidrogenase, NADH-TR, fosfatase ácida, citocromo-oxidase, etc), histoquímico (Vermelho Congo, Tricromático de Gomori modificado, PAS, Oil Red O, etc), imuno-histoquímico. O manuseio da amostra deve ser muito cuidadoso, sem o uso de pinças, para preservar-se a integridade morfológica, evitando-se artefatos, que prejudicarão os estudos microscópicos citados (1-3).
O fragmento de músculo, a ser fixado em formalina, deve ser dividido em duas partes, com cortes longitudinal e transversal ao maior comprimento das fibras, os quais, após o processamento e a infiltração em parafina, deverão ser emblocados para que os vários cortes histológicos sejam longitudinais e transversais.
O exame histopatológico dos músculos avalia as alterações:
1.No tamanho e forma das fibras;
2.Citoarquiteturais (posição, tamanho, picnose, aglomeração dos núcleos, etc);
3.Elementares, variadas: fibras hialinas; necrose hialina; regeneração; segmentação; degeneração com infiltrado de macrófagos; infiltrado inflamatório e sua localização; fibrose; infiltração adiposa; agentes infecciosos (1).
As reações para ATPase são úteis para distinguir as fibras musculares dos tipos I (de contração lenta, utilizam a via da oxidação aeróbica na produção de energia, com mais mitocôndrias e mioglobina, fibras vermelhas ou pardas) e II (de contração rápida, com mais glicogênio, utilizam a glicólise anaeróbica, fibras brancas). As demais enzimas (succinato-desidrogenase, citocromo-oxidase, NADH-TR) servem para avaliação dos mesmos tipos de fibras, complementando o estudo da ATPase. A succinato-desidrogenase é mais específica para as mitocôndrias do que a NADH-TR (nicotinamida-adenina-dinucleotídeo-tetrazolio-redutase), que marca agregados tubulares ou mitocondriais subsarcolemais. A fosfatase ácida é para avaliar enzimas lisossomais.
O Vermelho Congo é para avaliar amiloide.
O Tricromático de Gomori modificado é útil na avaliação das miopatias mitocondriais e do tecido conjuntivo intersticial.
Os métodos do PAS e Oil Red O servem para avaliar, respectivamente, o glicogênio e os lipídeos (2,3)
NERVOS:
Poucas neuropatias podem ser diagnosticadas em amostras emblocadas em parafina, a saber (relacionadas com): vasculites, hanseníase, amiloidose.
Tem-se preferência por fragmentos de nervos distais, pois na maioria das neuropatias a fibras mais longas são as mais frequentemente afetadas.
Os fragmentos de nervo devem ter pelo menos 1 a 2 cm de comprimento e serem:
1.Fixados em formalina a 10% para inclusão em parafina e cortes com 4 micrômetros, corados em H&E.
2.Fixados em glutaraldeído a 2,5% (mantido gelado a 4oC), por 2 horas, armazenados em solução salina tampão-fostato (PBS) e posterior inclusão em resina plástica para cortes semifinos e ultrafinos.
As colorações usuais para estudo histológico dos nervos são pelos métodos:
a) Hematoxilina & Eosina, Tricromáticos de Masson ou de Gomori, para avaliar a fibrose endoneural, a qual aumentada reflete a perda axonal;
b) Vermelho Congo para pesquisa de amiloide, sob luz polarizada;
c) Wade, Fite-Faraco ou Ziehl-Neelsen para pesquisa de micobactérias (bacilos álcool-ácido resistentes).
Os nervos incluidos em resina plástica são para a avaliação dos axônios mielinizados, de grande e pequenos calibres, e da bainha de mielina, em cortes semifinos e corados em azul de toluidina. Os axônios não mielinizados e as eventuais inclusões, segundo o tipo de neuropatia, podem ser observados em cortes ultrafinos, examinados em microscopia eletrônica (1, 4).
Referências:
1. Lancellotti, C.L.P.; Stávale, J.N.; Pittella, J.E.H.; Chimelli, L.M.C.; Serafini, L.N.; Hahn, M.D. & Canedo, N.H.S. - Cap. 3.2 - Neuropatologia Cirúrgica Não Neoplásica. Parte III - Procedimentos em Biopsias de Nervo e Músculo. In: Bacchi, C.E.; Melo, C.R.A.; Franco, M.F. & Artigiani Neto, R. - Manual de Padronização de Laudos Histopatológicos. 4a ed.; Sociedade Brasileira de Patologia; Barueri, S.P.; Manole; 2014; pp. 85-91.
2. Ang, L.C. - Skeletal Muscle, In: Rosai, J. (ed.) - Rosai and Ackerman's Surgical Pathology. 9th ed. Vol 1 and 2. Edinburg, Mosby/Elsevier, 2004, pp.2663-2681.
3. Gregory, C.E. & Griffin, J.L. - Enzyme Histochemistry of Skeletal Muscle. In: Mikel, U.V. (ed.) - Armed Forces Institute of Pathology. Advanced Laboratory Methods in Histology and Pathology. Washington, D.C., American Registry of Pathology, 1994, pp. 161-206.
4. Bilbao, J.M. - Peripheral Nerves, In: Rosai, J. (ed.) - Rosai and Ackerman's Surgical Pathology. 9th ed. Vol 1 and 2. Edinburg, Mosby/Elsevier, 2004, pp. 2623-2662.
Leia mais em:
Basic Histochemistry and Electron Microscopy of Normal Muscle.
Histotécnicas Neuropatológicas.pdf
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