EXTRAÇÃO DE DNA DE TECIDOS PARAFINADOS
Tecidos fixados em formalina ou outro fixador e incluídos em parafina
PROCEDIMENTO I
1. Faça cortes histológicos com 4 µm de espessura. Despreze os dois primeiros cortes e recolha outros 8 cortes num tubo para PCR de 1,5 ml (use um tubo para cada bloco de tecido parafinado). Os tubos, devidamente rotulados, deverão ser guardados em caixa apropriada a -20°C, até a extração do DNA.
2. A navalha do micrótomo deve ser nova. Todo o material usado deverá ter sido devidamente higienizado com etanol. A pessoa que cortar deverá usar luvas livres de talco durante todas as etapas do procedimento. Preferencialmente, a navalha deverá ser trocada para cada novo bloco.
3. Em cada tubo contendo 8 cortes de tecido, coloque, com pipeta, 250 µl da solução de lise celular (50 mM Tris-HCl, pH 8,5 + 5 mM EDTA pH 8,0 + 300 mM NaCl + 1% SDS). Em seguida, incube os tubos a 90°C, por 20 minutos. Após, deixe esfriar até a temperatura ambiente, e mantenha os cortes nesta temperatura por 5 minutos.
4. Acrescente, em cada tubo, 15 µl de proteinase K, diluída a 10 mg/ml. Incube a 56°C, por 48 horas (etapa opcional), no banho seco. O tempo prolongado (48 horas) de incubação aumenta a quantidade de DNA obtido na extração, conforme demonstrado na literatura científica.
5. Em seguida, incube os tubos a 95°C, por 10 minutos, para inativar a proteinase K.
6. Centrifugue à 13.000 rpm, por 10 minutos. O sobrenadante deverá ser transferido para outros tubos para PCR de 1,5 ml (o DNA eluído está no sobrenadante).
7. Deixe atingir a temperatura ambiente. Adicione em cada tubo, aproximadamente, 1/10 de NaCl 5M (cerca de 20 µl), e misture usando o agitador tipo Vortex.
8. Adicione 2 volumes de etanol absoluto a -20°C. Misture bem por inversão. Deixe neste etanol, a -20°C, por uma noite (etapa opcional, porém, isto permite potencializar a precipitação do DNA).
9. No dia posterior (etapa opcional), ou no mesmo dia, centrifugue a 10.000 rpm, por 15 minutos. Após, descarte o sobrenadante, gentilmente, por decantação. O DNA vai estar no pellet (sedimento).
10. Ressuspenda o pellet (sedimento) em 500 µl de etanol a 80%. Centrifugue a 10.000 rpm, por 5 minutos. Descarte, gentilmente, o sobrenadante e deixe secar à temperaura ambiente, por 5 a 10 minutos. Esse processo de lavagem com etanol a 80% ajuda a remover os resquícios de sal. O etanol evapora em alguns minutos.
11. O pellet (sedimento) deverá, então, ser ressuspendido em solução tampão TE modificado (10 mM Tris-HCl pH 8,0 + 0,5 mM EDTA pH 8,0). O DNA eluído deverá ser armazenado a -20°C para uso posterior. A modificação da solução tampão TE original foi a redução da concentração de EDTA pela metade. Tal redução foi preconizada pelo fabricante Qiagen. O uso desse tampão (TE modificado) para armazenar o DNA extraído com o QIAmp DNA Isolation Kit obtém DNA de ótima qualidade, mesmo depois de 16 anos armazenado a 4°C ou -20°C.
Referências
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Marcelo Soares da Mota e Silva
Biologista Molecular
Departamento de Patologia
Faculdade de Medicina - UFRJ
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PROCEDIMENTO II
PASSOS BÁSICOS NA EXTRAÇÃO DE DNA DE TECIDO PARAFINADO
INTRODUÇÃO
O protocolo de extração de DNA consiste em três etapas básicas:
1. Etapa de Lise – o primeiro passo consiste em realizar a lise (quebra) da membrana das células teciduais para expor o DNA;
2. Etapa de Lavagem ou Limpeza – consiste em quebrar e emulsionar a gordura e as proteínas que formam a membrana das células. Isto normalmente é feito utilizando-se soluções detergentes e por centrifugação;
3. Etapa de Eluição – por fim, ocorre a liberação dos ácidos nucléicos (DNA/RNA) das células, ficando disponibilizado o DNA purificado, pronto para ser utilizado em diferentes aplicações
CUIDADOS
1. A amostra tecidual coletada deve ser manuseada com o uso de luvas sem talco, evitando-se, assim, que parte dos ácidos nucléicos sejam degradados por nucleases;
2. Todo material coletado deve ser mantido refrigerado, preferencialmente, à temperatura de -20ºC, até o momento de ser submetido à extração;
3. O DNA deve ser manipulado em ambientes cuidadosamente higienizados com etanol a 70%;
4. O material de polipropileno (plástico) utilizado deve ser esterilizado e novo, e material já utilizado não deve ser aproveitado.
MATERIAIS E EQUIPAMENTOS NECESSÁRIOS
1. Centrífuga com controle de refrigeração;
2. Capela de exaustão;
3. Banho-maria seco, com termostato ou com termômetro, para aferição da temperatura;
4. Pipetas e ponteiras esterilizadas;
5. Tampão de digestão (Tris HCl pH 8,0 – 10mM + EDTA pH 8,0 – 1mM, + dodecil sulfato de sódio (SDS) 0,5%, + enzima digestiva [proteinase K 20 µg por mL, adicione apenas no momento de uso]).
6. Etanol absoluto ou Isopropanol (álcool isopropílico);
7. Etanol a 70%;
8. Tampão TE (Tris HCl 10Mm + EDTA 1mM), pH 8,0;
9. Tubos de polipropileno;
10. Vidraria para o preparo de soluções (provetas e pipetas esterilizados).
COLETA DA AMOSTRA DE TECIDO DO BLOCO DE PARAFINA
1. Selecione a área de interesse do tecido no bloco de parafina;
2. Despreze o primeiro corte;
3. Em um tubo tipo Eppendorf DNAse/RNase livre (free), devidamente identificado, acondicione cinco cortes de 4 micrometros ou, quatro cortes de 5 micrometros da amostra de tecido selecionada;
Obs: utilize uma navalha nova por bloco, e higienize com etanol o equipamento e as pinças na manipulação de cada bloco.
DESPARAFINAÇÃO
1. Adicione, à amostra, 1 mL de xilol e deixe agir por 5 minutos, com agitação. Passados os 5 minutos, centrifugue a amostra por, aproximadamente, 2 minutos e, com o auxílio de uma pipeta, retire o sobrenadante. Repita este processo 3 vezes.
2. Adicione 1 mL de etanol absoluto e deixe agir por 5 minutos, com agitação. Passados os 5 minutos, centrifugue a amostra por, aproximadamente, 2 minutos e, com o auxílio de uma pipeta, retire o sobrenadante. Repita este processo 2 vezes.
3. Adicione 1 mL de etanol a 70% e deixe agir por 5 minutos, com agitação. Passados os 5 minutos, centrifugue a amostra por, aproximadamente, 2 minutos e, com o auxílio de uma pipeta, retire o sobrenadante e deixe o tubo aberto, dentro da capela de exaustão, até que o etanol evapore por completo.
I) EXTRAÇÃO - LISE CELULAR (DIGESTÃO)
Este é o primeiro passo, que consiste na ruptura da célula, possibilitando a exposição do DNA/RNA.
1. O sedimento (pellet) do tecido desparafinado deve ser ressuspendido em tampão de lise, antes de ser submetido à digestão enzimática:
1.1. Ressuspenda o sedimento (pellet) em 180 μl de tampão de lise (Tris-HCl pH 8,5 – 10mM, + EDTA pH 8,0 – 5mM + NaCl 50 mM, SDS 1%) - respeitando a proporção de 1,2 mL de tampão para cada 100 mg de tecido;
1.2. Centrifugue a amostra (13.000 rpm), durante breves instantes (aproximadamente 10 minutos);
1.3. Adicione 20 μl da enzima proteinase K à amostra . A proteinase K auxilia na lise e na quebra das histonas acopladas ao DNA.
1.4. Agite com o vórtex.
1.5. Incube a 56°C por, aproximadamente, 24h ou, até a amostra ter sido completamente digerida (fica com aspecto viscoso). O tempo de digestão varia de acordo com o tipo de tecido.
1.6. Incube a 95 °C, por 1 hora.
Obs: A incubação a 95°C é indicada para reverter a ligação cruzada com a formalina.
II) EXTRAÇÃO – PURIFICAÇÃO (LAVAGEM)
Esta etapa varia de acordo com o protocolo utilizado.
Caso utilize a técnica fenol-clorofórmio:
Fenol: agente desnaturante - 25 microlitros;
Clorofórmio: agente desnaturante que auxilia a estabilizar o DNA - 24 microlitros;
Álcool isoamílico: age reduzindo a formação de espuma durante a reação- 1 microlitro.
1. Acrescente 300 microlitros da solução fenol-clorofórmio à amostra;
1.2. Homogeinize por, aproximadamente, 5 minutos;
1.3. Centrifugue, por 5 minutos, à 13.000rpm.
III) EXTRAÇÃO – RECUPERAÇÃO (ELUIÇÃO)
1.1. Após a centrifugação, acondicione o sobranadante (pellet) em um tubo tipo Eppendorf;
1.2. Descarte o sedimento (pellet);
1.3. Adicione, à amostra, 250 µL de etanol 97% a 100% ou Isopropanol, para precipitar o DNA;
1.4. Homogeinize, cuidadosamente, até formar uma “nuvem” esbranquiçada;
1.5. Centrifugue à 13.000 rpm, por 5 minutos;
1.6. Descarte o sobrenadante;
1.7. Acrescente 300 microlitros de etanol 70%, para retirar o resíduo de NaCl da amostra;
1.8. Homogeinize cuidadosamente;
1.9. Centrifugue à 13.000 rpm, por 5 minutos;
1.10. Descarte o sobrenadante;
1.11. Aguarde o etanol evaporar;
1.12. Ressuspenda o sedimento (pellet) de DNA, em 100 µL de tampão TE;
1.13. Acondicione à -20ºC, até o momento de uso.
TÉCNICA DE COLUNA DE SÍLICA
I) EXTRAÇÃO - LISE CELULAR (DIGESTÃO)
Conforme o acima descrito.
I) EXTRAÇÃO – PURIFICAÇÃO (LAVAGEM)
1.1. Adicione, à amostra, 250 µL de etanol 97% a 100% ou Isopropanol;
1.2. Acondicione 30 µL da amostra em uma coluna e encaixe em um tubo tipo Eppendorf;
1.3. Centrifugue a 37ºC, a 13.000 rpm, por 5 minutos, e despreze o sobrenadante;
1.4. Adicione 500 µL de etanol 70%, ou tampão de lavagem à amostra;
Tampão de lavagem opcional:
TrisHCl 0,1 M – pH 8,0 -------------------100mL
Isotiocinato de guanidina -----------120gramas
1.5. Centrifugue a 37ºC, à 13.000 rpm, por 5 minutos, e despreze o sobrenadante;
1.6. Repita o último passo por 3 vezes.
III) EXTRAÇÃO – RECUPERAÇÃO (ELUIÇÃO)
1. Acondicione a coluna com a amostra em um tubo tipo Eppendorf;
1.1. Adicione à amostra, aproximadamente, 100 µL de tampão TE;
1.2. Centrifugue a 37ºC, a 13.000 rpm, por 5 minutos;
1.3. Despreze a coluna;
1.4. O sobrenadante é o seu DNA purificado;
Obs: Armazene a amostra refrigerada a -20ºC, ou a -80ºC, até o momento de uso.
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