A IMPORTÂNCIA DA AUTOPSIA (NECROPSIA)
A autopsia, ou necropsia, continua sendo um muito importante procedimento médico para a determinação da causa da morte, do diagnóstico principal e dos diagnósticos secundários, pois compreende, em sua primeira parte, a avaliação macroscópica (exames externo e interno da cabeça, pescoço, tórax, abdome, pelve e membros superiores e inferiores), estabelecendo-se os diagnósticos mais prováveis, correlacionados com a história clínica do paciente, para o preenchimento da declaração de óbito. Tais diagnósticos são confirmados, ou não, e acrescidos de outros importantes, após o exame histopatológico (estudo microscópico dos fragmentos teciduais de todos os órgãos, segundo o procedimento operacional padrão), completando-se o estudo necroscópico. O laudo final da necropsia é firmado buscando-se a correlação dos achados macroscópicos e microscópicos com os diagnósticos e as informações clínicas, cirúrgicas, de imagem e laboratoriais clínicas contidas no prontuário médico.
Apesar da perene importância da realização da necropsia, mesmo diante de prontuários médicos enciclopédicos (vários volumes), hoje, a correlação entre a Patologia Clínica e a Imagenologia, na prática, ocupou o lugar da clássica correlação anatomoclínica, sendo, por vezes, negligenciados a anamnese e o exame físico dos pacientes. Além disso, o avanço tecnológico nos diagnósticos por imagem, que, sem dúvida, tornaram-se de ótima qualidade, com imagens detalhadas do corpo, tem reforçado a desvalorização deste procedimento, julgando-se não ser mais necessário, ou mesmo redundante. Inclusive, defende-se a substituição da necrópsia real pela virtual, ou seja, baseada nos diagnósticos por imagem. Acresce que não é incomum ler-se nos laudos de diagnósticos por imagem descrições com termos histopatológicos (fibrose, esteatose, hemangioma, ateroma, etc), como sendo diagnósticos conclusivos e não hipóteses diagnósticas, assim como ser questionada a veracidade de um laudo final de necropsia, com diagnósticos histopatológicos, com base apenas nos diagnósticos do imagenologista. Contribuem, igualmente, para desvalorizar a realização das necropsias: os exames laboratoriais clínicos, cada vez mais sofisticados, as questões médico-legais, que podem surgir com a descoberta de diagnósticos "errôneos," ou não feitos, em vida do paciente, e o desconhecimento de muitos profissionais da área da saúde, incluindo médicos, do que é realmente uma necropsia, favorecendo-se o desinteresse médico e uma abordagem inadequada dos familiares, para que a necropsia seja autorizada.
Apesar do correto exercício médico basear-se, inicialmente, nos diagnósticos mais prováveis, sabe-se que, na prática de todas as especialidades médicas, incluindo a Patologia, assim como na vida em geral, "nem tudo que parece, é," e que, "nem tudo que não parece, não é!" Assim, toda necropsia completa, bem feita, traz informações importantes, é fonte de rico aprendizado para todos, incluindo o médico patologista, e, o mais importante, contribui para o desenvolvimento da virtude da humildade.
Artigos científicos recentes têm demonstrado discrepâncias, que variam de 20% a 30%, entre os diagnósticos descobertos nas autópsias e os fundamentados na interpretação das imagens, assim como têm relatado os problemas acima citados, entre outros. Alguns realçam a importância da autopsia no aprendizado médico, sendo a mesma ensinada por meio apenas virtual, devido a este procedimento não ser mais realizado frequentemente.
Leia mais sobre os prós e contras em:
1. Chantal C. H. J. Kuijpers et al. - The Value of Autopsies in the Era of High-Tech Medicine: Discrepant Findings Persist. J Clin Pathol. 2014; 67(6): 512-519.pdf
2. Ime Eka et al. - Mind the Gap. Are NHS Trusts Falling Short of Recommended Standards for Consent to Autopsy? J Clin Pathol. 2014; 67(1):10-13.pdf
3. Joe Barber Jr. - Routine Imaging Could Reduce the Need for Standard Autopsies. Medscape. Nov 21, 2011.pdf
4. Geoffrey A. Talmon et al. - The eAutopsy. An Effective Virtual Tool for Exposing Medical Students to the Postmortem Examination. Am J Clin Pathol. 2014; 142(5): 594-600. pdf
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