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FÍGADO: PROCEDIMENTOS PARA O ESTUDO HISTOLÓGICO CONVENCIONAL

 

Considerações gerais. A obtenção dos fragmentos hepáticos. Fixação.

As biopsias hepáticas podem ser feitas por via transcutânea (intercostal), peritoneoscopia, transvenosa (veias jugular ou femoral) ou cirúrgica. Utilizam-se agulhas cortantes ou de aspiração, devendo os fragmentos ter, pelo menos, 1,5 a 2,5 cm de comprimento e, no mínimo, 10 espaços-porta completos. Os fragmentos são, usualmente, fixados em formalina a 10%, tamponada. Leia mais sobre fixação em Patologia Cirúrgica.

As biopsias cirúrgicas, incisionais, do fígado devem ser realizadas imediatamente após a entrada na cavidade peritoneal, e não ao final de uma cirurgia, para se evitarem os artefatos cirúrgicos, como a necrose de coagulação de hepatócitos isolados ou em pequenos grupos, associada com infiltrado de neutrófilos, usualmente centrolobular, porém com extensão aumentada dependente da duração da cirurgia e do grau de manipulação do fígado. As áreas subcapsulares devem ser evitadas por não representarem o órgão inteiro, pois podem mostrar fibrose mais acentuada, em relação às áreas mais profundas, com alterações mínimas. Assim, as biopsias incisionais devem ser profundas.

 

Métodos de Coloração ou impregnação

Vários métodos de coloração, ou impregnação, são utilizados para o estudo histopatológico hepático, constituindo-se painéis, que variam de acordo com o que se quer avaliar, a saber:

1. Hematoxilina & Eosina. É uma dupla coloração rotineiramente empregada nos cortes histológicos, sendo a hematoxilina um corante de caráter básico, que cora em azul escuro ou roxo, as estruturas ácidas, como o núcleo das células (por conterem ácido nucléico) e, no citoplasma, o ergastoplasma (o retículo endoplasmático rugoso que tem ácido ribonucléico nos ribossomos), e a eosina, um corante ácido, que cora em rosa ou vermelho claro, as estruturas básicas, especialmente o citoplasma das células (o citosol e as mitocôndrias), e o interstício, o tecido conjuntivo.

2. Tricromático de Masson ou de Gomori, que permitem avaliar a fibrose (portal, perissinusoidal e periveia centrolobular), a presença do corpúsculo hialino de Mallory (Mallory-Denk), por exemplo, nas esteato-hepatites alcoólica e não alcoólica, na doença de Wilson, nas colestases crônicas, etc, as megamitocôndrias nas esteato-hepatites alcoólica e não alcoólica, etc.

3. Ácido Periódico-Schiff (PAS), cora o glicogênio no núcleo e citoplasma dos hepatócitos, e as glicoproteínas neutras, não colagênicas, presentes na matriz extracelular dos espaços-porta, perissinusoidal e periveia centrolobular, facilitando a avaliação dos limites (placa limitante) dos espaços-porta nas hepatites, as membranas basais dos ramos das artérias hepáticas e da veia-porta, e dos ductos biliares e, quando o método emprega a diástase (solução aquosa a 1% de preparado bruto de amilase do malte), que pode ser substituída pela saliva humana, eliminando-se o glicogênio, facilita a observação dos glóbulos de acúmulo da alfa-1-antitripsina nos hepatócitos periportais, na deficiência de alfa-1-antitripsina (glicoproteína antiprotease sérica) e a observação do pigmento castanho dourado (lipofuscina tipo ceroide) acumulado no citoplasma das células de Kupffer pela fagocitose de restos celulares e de hepatócitos mortos (“ceroide dos macrófagos”), etc, por exemplo. Para o estudo do glicogênio recomenda-se a fixação em Bouin Alcoólico.

4. Reticulina, impregnação com prata, que permite avaliar a trama de fibras reticulares [proteínas colagênicas (colágeno tipo III) e não colagênicas] da matriz extracelular nos espaços-porta, perissinusoidais e periveias centrolobulares, que se encontra aumentada nos espaços-porta e, ou perissinusoidais, nas fibroses, e colapsada nas áreas de necrose, por exemplo.

5.Picrosirius Red O fígado normal tem em sua matriz extracelular os colágenos I, III, IV, V e VI e glicoproteínas não colagênicas, como a fibronectina e a laminina, entre outras, e proteoglicanos. A coloração pelo método do Sirius Red é útil na avaliação do colágeno nas fibroses e, sob luz polarizada, permite diferenciar os colágenos I (amarelo) e III (verde). Sirius Red e Perls-Picrosirius Red.

6. Orceína de Shikata, Victoria blue e Aldeído-fucsina confirmam a relação do aspecto em vidro despolido do citoplasma dos hepatócitos com o acúmulo do antígeno de superfície do vírus da hepatite B (HBsAg). O método da Orceína de Shikata cora também o sistema elástico e a proteína ligada ao cobre (metalotionina), como grânulos castanhos. O Victoria blue cora o HBsAg em azul e  também: a lipofuscina, mastócitos, elastina e mucina em azul; núcleos e citoplasma em vermelho; pigmento biliar em vermelho; hemossiderina em azul-pálido e a proteína associada ao cobre em azul. O Aldeído-fucsina também cora o sistema elástico. No fígado normal o sistema elástico predomina nos espaços-porta (fibras elaunínicas e oxitalânicas) e nas veias hepáticas terminais (centrolobulares).

7. Perls (reação do azul da Prússia) na avaliação das sobrecargas de ferro (siderose/hemossiderose) pelo acúmulo de ferro nos hepatócitos e, ou células de Kupffer.

8. Vermelho Congo para amiloide (sob luz polarizada com cor verde-maçã) depositado nos ramos das artérias hepáticas ou nos espaços de Disse (perissinusoidais).

9. Rodanina ou Ácido Rubeânico para demonstrar depósitos de cobre em hepatócitos na doença de Wilson e em doenças colestáticas, etc.

 

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