CITOPATOLOGIA: CONSIDERAÇÕES GERAIS
O diagnóstico citopatológico realizado por médico patologista proficiente, a partir de amostras bem colhidas, por serem representativas dos sítios com as alterações patológicas que se quer, obviamente, diagnosticar, corretamente fixadas, logo após a colheita, em lâminas de microscopia, ou prontamente remetidas para o laboratório de Patologia, sendo bem processadas pelo histocitotecnologista, costumam ter grande valor diagnóstico, por excluírem as conclusões diagnósticas falso-negativas. Naturalmente, requer-se pronta orientação do médico assistente para que seja colhida outra amostra nas situações em que um diagnóstico citológico de malignidade é apenas suspeito, ou prejudicado por artefatos de má fixação, ou por autólise, ou lâminas com amostras espessas, devido à grande sobreposição de células, dificultando a avaliação dos detalhes nucleares, ou com amostras paucicelulares, de locais onde, usualmente, o número de células é grande.
Na avaliação citopatológica de materiais colhidos da maioria dos órgãos, usualmente, busca-se correlacionar os achados citológicos com o exame histopatológico, antes de se tomar a decisão do tratamento definitivo do paciente, especialmente nos com suspeita de estarem com neoplasia. Apesar disso, quando a amostra para a avaliação citopatológica é representativa de uma lesão suspeita como sendo maligna, pelo exame de imagem e pela clínica do paciente, permitindo fazer-se, com certeza, um diagnóstico citológico de malignidade, pode-se fazer o tratamento definitivo cirúrgico, mesmo diante de uma amostra histológica com resultado falso-negativo para câncer.
As lesões suspeitas de malignidade localizadas em sítios superficiais, como a pele ou a mucosa oral, são melhor diagnosticadas e estadiadas por exame histopatológico, devendo-se evitar os exames citopatológicos de materiais exfoliados (raspados) das superfícies das lesãos, por serem perda de tempo para o pronto diagnóstico completo, envolvendo, assim, gastos desnecessários.
Porém, em determinados sítios, como o cérvicovaginal, a colheita de material superficial da mucosa, para o diagnóstico citopatológico precoce do câncer, está muito bem estabelecido há muitos anos, sendo empregado o método de coloração de Papanicolaou, entre outros, por favorecerem diagnósticos acurados, com relativo baixo custo e alto sucesso na redução do número das pacientes com câncer ginecológico diagnosticado, já em estádio avançado.
Por outro lado, os diagnósticos precoces citopatológicos de câncer a partir de amostras da mucosa gástrica, em pacientes com anemia perniciosa, ou do brônquio em grandes fumantes, ou de aspiração do mamilo em mulheres mais velhas, não têm sido encorajadores.
Diagnósticos citopatológicos acurados de materiais colhidos por punção aspirativa por agulha fina, geralmente guiada por exame de imagem, por médicos experientes, têm sido realizados especialmente nas lesões de mama, tireoide, glândulas salivares e pulmões, os quais têm se mostrado, relativamente, com baixo custo, seguros e rápidos. Apesar disso, tais diagnósticos podem ser prejudicados por artefatos decorrentes da colheita, da má fixação, ou de falhas no processamento dos materiais, contribuindo para conclusões diagnósticas erradas por má interpretação das alterações citológicas observadas, que podem simular alterações malignas, entre outras.
São também submetidos ao exame citopatológico: secreções, como o escarro; líquidos provenientes do pericárdio, das cavidades pleurais e peritoneal; distenções ("esfregaços") sanguíneas ou de medula óssea, ou de pequenos fragmentos de neoplasias do sistema nervoso central; líquido cefalorraquidiano (líquor); preparados por toque (“imprints”) nas lâminas de microscopia das superfícies de corte dos órgãos, como linfonodos, etc, que permitem avaliar os detalhes das células em si, isoladas e agrupadas, e as relações entre as mesmas, em correlação com o corte histopatológico, se são neoplásicas ou não, etc; assim como fazer a pesquisa de agentes infecciosos e parasitários (vírus, bactérias, fungos, protozoários, etc); podendo ser empregados vários métodos de coloração especiais usados em histologia, dependendo da origem da amostra e do que se quer avaliar.
No caso das amostras líquidas serem, relativamente, pouco celulares (líquor, lavado broncoalveolar, urina, transudatos), podem ser feitos citocentrifugados, concentrando-se as células numa área da lâmina, ou realizar o processamento com filtros de membrana, que permitem a colheita de todas as células. Igualmente, os citocentrifugados de líquidos mais celulares, ou de outros materiais (lavados, escovados, aspirados), podem gerar sedimentos a serem processados como tecidos por meio dos blocos celulares, fornecendo-se cortes a serem corados com os vários métodos de coloração histológicos.
Os materiais para diagnóstico citopatológico igualmente podem ser submetidos aos vários exames em Biologia Molecular como: citogenética; imunocitoquímica; hibridização in situ; reação em cadeia da polimerase (PCR); citometria de fluxo (materiais líquidos), etc, que complementam os estudos citopatológicos clássicos.
Referências:
Raber, T.L. & Buckner III, L. – Chapter 7 - Cytopathology Techniques, In: MIKEL, U.V., ed. - Armed Forces Institute of Pathology. Advanced Laboratory Methods in Histology and Pathology. Washington, D.C., American Registry of Pathology, 1994, pp. 207-236. [Técnicas Citopatológicas.pdf]
Rosai, J. (ed.) - Rosai and Ackerman's Surgical Pathology, 10th ed., volume 1, Edinburgh, Elsevier/Mosby, 2011, pp. 13-15.
Leia mais em:
Papanicolaou Society of Cytopathology
Cytopathology of the uterine cervix - digital atlas
George Nicholas Papanicolaou (1883-1962): biography 1 e biography 2
Foundation of Diagnostic Cytology
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